segunda-feira, 28 de novembro de 2016

CORAÇÃO...

                                                                                     

                                                                                   
                                                    CORAÇÃO...
                                                                                                    

                Coração amanteigado. Derretido, caloroso, amoroso, se empederniu, fechou, murchou, secou e se ressecou! Confrangeu pois tanto e tantas vezes foi machucado, vilipendiado, atingido, esquecido que se encolheu como se procurasse abrigo e se acomodasse sob a proteção de uma ostra,
                Não fosse um coração de câncer, o signo do caranguejo! Às vezes  até ensaia uma corrida de viés tentando sobreviver.
                Tantos os desenganos, inúmeros e doídos os desencantos com o país e seus líderes, com a inércia e a usura, com a desumanidade do levar vantagem acima de tudo, com a bandalheira e pior, os desencantos tristes e doídos com os mais queridos, os mais íntimos, os mais amados ao longo de longa vida!
                Coração que ainda teima em se sensibilizar com algumas notícias ou com amigos, com cenas e atitudes de desconhecidos, mas do calor dos antigos e mais íntimos amores, é morto o coração que se encolhe e se defende mesmo viciado a bem querer, quase recai no sentir porém a dor latente se faz aguda e ele se encouraça, pois mesmo assim ainda quer pulsar, corresponder à vida e esperar por seus milagres.
                Triste e amigo coração sempre tão gentil e amoroso!
                Como bem o conheço respeito sua dor/luto, mas tento por vezes e quantas vezes possível for e o que necessário se fizer para acordá-lo, revivê-lo e de novo vê-lo ser como sempre foi, num coração puro de amor, amorável e amável.

                                               Mariza C.C. Cezar
                                                                                                          
   


                              

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

PENSAR E PENSAR...

                                        
                           PENSAR E PENSAR...
                                                                                                                                
                Estava eu a pensar e pensar, matutando e quem sabe com alguma filosofia e pitadas de humor, talvez até de pilhéria a respeito da imprevisível proximidade daquela inexorável figura que nem as lâminas do tarô dizem o nome, mantendo apenas o número 13, com medo de ao nomeá-lo, despertar sua atenção fatídica.
                Ao me debruçar sobre esse assunto nada agradável a não ser  aos donos de casas funerárias que dela vivem, revivi estórias ouvidas das conversas das minhas tias que contavam, umas com sorrisos galhofeiros e outras consternadas, a preocupação de  querida amiga que era colega de uma delas na Escola e Academia de Belas Artes de São Paulo.
                Essa amiga era de talhe gracioso, delicada beleza, fino trato e família de escol, era muito vaidosa e, por ser loira e muito clara não andava sem uma sombrinha e as tinha bonitas e de várias cores, algumas pintadas outras com fru-fru ou rendinhas arrematando suas bordas e os cabos de marfim, madeiras entalhadas ou de prata lavradas e com incrustações de pedras semipreciosas, todas com a finalidade de protege-la do sol, evitando sardas que quebrariam a rósea e translucida cor de sua tez de delicado pêssego.
                Comentavam ainda as tias que a amiga nunca ia ao leito sem fazer completa maquiagem, caprichando no ruge e no batom com medo de, por fatalidade vir a morrer durante a noite e ser vista sem seus requintes de beleza e compostura!
                Essa lembrança me levou a outra não menos curiosa e mais trágica com certeza! A lembrança da moça que tendo frequentado alguns velórios e prestado sua solidariedade aos familiares e homenagens aos conhecidos que partiram e então percebeu que  muitas vezes, passada a noite de velório, pela manhã os falecidos apresentavam longos fios de barba espetados pelo queixo.
                Essa moça ficou com pavor de virar um defunto circense e de se transformar em grotesca mulher barbada!
                Não sei lhes dizer se deixou expressas suas últimas vontades e nem se ainda está viva, mas que andou cogitando de caixão lacrado, isso me lembro de ter ouvido falar.
                Que é feito dela não sei lhes dizer pois os caminhos da vida são misteriosos e se encarregam de nos apresentar bifurcações e assim perdi de vista essa assustada garota.
                Quanto a mim e meus devaneios, só posso dizer que espero vir a ser cremada um dia, no mais que isso fique para anos e anos a perder de vista, pois a despeito de minhas dores e limitações, gosto muito da vida e do viver!


                                                    Mariza C.C. Cezar