domingo, 30 de outubro de 2016

TEMA RECORRENTE


                                                                         
                                                                         
                              TEMA RECORRENTE...
                                                                                                      
                                                   

                Saudade!
                Tão grande saudade surgiu assim num repente, enquanto dentro da rotina armava e ligava o notebook ouvindo a música que anunciava a abertura da última novela da noite, uma novela até agora bem sem graça.
                Saudade repentina e dominante e nem sei ao certo de que ou de quem.
                Seria saudade de mim? Daquela que fui ou  daquela com quem sonhei, construí projetos, romanceei sucessos? Saudade sim! Seria do passado cheio de azafamas, esperanças e sonhos ou saudade das maquetes construídas por esses sonhos e projetos que acreditava atingiria na vida e com eles boniteza e realizações?
                Essa saudade trouxe melancolia, certo aperto no peito e sensação longínqua de lagrimas nos olhos.
                O nariz que nesses momentos se manifesta, permanece sem o esperado ardor. Impassível se coloca de expectador, esperando para ver onde essa saudade vai dar ou levar.
                Saudade, dizem ser perda de tempo, coisa do passado e sem lugar nestes tempos virtuais em que ninguém tem, nem perde tempo  e tampouco sentimentos reais.
                Dinamismo e impessoalidade fazem a moda, a onda do momento em que velhos chavões se tornaram o apogeu da intelectualidade dominante!
                Tantos os filósofos a repetir conceitos e a atribuí-los a autoridades e destaques da intelectualidade com projeção no Google ou ainda no aspecto religioso ou místico, uma chuva de conceitos e de frases feitas ou normas, como se fossem verdades incontestes!
                E essa saudade repentina me fez menina, como se quisesse voltar a um ritmo de vida doce e com futuro certo, com afetos sinceros e amigos e família de carne e osso com abraço amoroso e afeto real!
                Ao escrever sobre essa saudade, o que fiz foi digeri-la e sem me libertar dela, voltei à rotina, à realidade crua que se é nua, não é despida de sonhos, vez que sou incorrigível!
                Volto ao meu dia a dia e por hora, ao burburinho da internet a abraçar amigos e parentes pelo veículo virtual, esse veículo mágico que nos leva a grandes viagens e sonhos, que encurta distâncias e tempo, sem tempo para saudade, pois tudo é rápido e está prontamente ao alcance na dinâmica do agora e já.

                                                       Mariza C.C. Cezar
                                                                                                      

                                                                 
 

sábado, 22 de outubro de 2016

MOMENTOS DE REFLEXÃO







                                                                               
                                                                                       
                                                   MOMENTOS DE REFLEXÃO
                                                                                                      


                Desde pequenos somos ensinados a fazer exames de consciência, avaliações dos nossos sentimentos, desejos, condutas, pensamentos e principalmente das nossas ações, somos também alertados quanto aos diversos tipos de consciência, a escrupulosa, a condescendente, a relapsa, conivente, ao nos tornarmos adultos e mais instruídos e responsáveis passamos a fazer periodicamente certos balanços de períodos do nosso viver.
                Fazemos a partir de certa idade um verdadeiro balanço do nosso ser, emoções, conquistas, projetos e realizações. Avaliamos e por vezes questionamos realizações e projetos e procuramos encontrar os possíveis erros e deslizes de conduta ou de projetos para evitá-los e corrigirmos o que houver para ser melhorado ou evitado, banido, no entanto também muitas vezes nos congratulamos conosco mesmo e com os sucessos realizados, galgados ou alcançados.
                Verdadeiros exames de consciência, de contabilidade não apenas em termos financeiros e econômicos, mas ainda não nos atemos ao ter, nos ocupamos principalmente do ser, esse o maior objetivo!
                Dias desses como sempre faço por adorar ler e por ter uma imensa atração por crônicas, li uma de conhecida cronista local a quem muito aprecio e ela comentava seu recente aniversário e sobre o balanço anual que habitualmente faz por essa ocasião, o que me transportou ao assunto e constatei que habitualmente faço o meu “balanço anual” por ocasião da virada do ano protocolar, dentro do nosso calendário gregoriano, aí minha analise de vida, aí minhas despedidas e agradecimentos ao que fiz e fui, ao que conquistei e ao que perdi e também minhas avaliações e projetos a que corrigir, reforçar, equilibrar e conquistar ou realizar.
                Na minha virada de ano personalíssima, no meu aniversário, me transformo em criança e só quero curtir e festejar a mim e à vida e ao meu viver!
                Talvez queira, por carência suprir o “clima” de festa que não tive ao longo dos verdes anos, vez que antecipavam o meu bolo por uns dias e eu, todos os anos apagava às velinhas em bolo conjunto no dia do aniversário do meu tio-pai e isso por ser a data do meu natalício de triste luto para a mãe e tios, pois minha avó materna  morrera no dia em que completei dois aninhos.
                Hoje em dia, todos os anos em 16 de julho, eu me dou de presente, um dia leve, cheio de bem querer, de amigos e de brindes à vida e à vontade de viver!
                Espero continuar a isso fazer por algum bom tempo e a contar com os preciosos abraços que tenho recebido e a outros que a esses venham  se juntar!

                                                             Mariza C.C. Cezar
                                                                                                                                         



domingo, 9 de outubro de 2016

DA CASA EM FRENTE...

                                                                           
                                                         

                              DA CASA EM FRENTE...
                                                                                                    

                Na rua em que morava havia um correr de sobradinhos, iguais e geminados bem defronte á minha casa.
                Preenchia minhas horas preguiçosas sentada ao terraço  no cair da tarde e entre um livro ou um trabalho manual, me divertia observando os pequenos pássaros que ainda se aventuravam de uma árvore a outra antes de se recolherem ao ninho e também às retardatárias borboletas pousando de flor em flor que coloriam meu pequeno jardim.
                A verdade é que observava também aos sobradinhos à frente de casa e ainda às crianças, ano a ano acompanhando seus desenvolver.
                Fui observadora cúmplice de muitos namoricos a partir da adolescência delas, assim como de algumas rusgas, rompimentos e quantas vezes  mesmo de longe compartilhei os sonhos que faziam as mocinhas desses sobrados, suspirarem enquanto perscrutavam os céus estrelados assim como às esquinas.
                Pouca diferença de idade entre elas, a mais nova e sapeca desde pequena até os seus vinte e poucos anos, saia de sua casa pela janela do quarto dos pais e percorrendo o telhadinho que cobria aos terraços das duas casas, entrava na visinha também pela janela a fim de tagarelar com a amiga.
                Sabe-se lá o que confidenciavam a despeito do sempre presente e alerta olhar das duas famílias que, às antigas, não davam muita trégua ou liberdade às mocinhas.
                Vi namoros nos portões, depois nos terraços e até que obtida a devida permissão, promovidos ás salas e até a algumas refeições.
                A mais velha das duas, aquela cujo terraço dava diretamente em frente ao meu, linda e prendada mocinha, sempre tinha pretendentes que a pé ou de carro, batiam à sua porta, alguns não passaram de flerte ou paquera, outros de namoricos, alguns duravam uns poucos meses e o mais longo  e bem mais tarde, uns dois anos.
                Flores sempre eram entregues e bem recebidas, mas os namoros às antigas e com constante vigilância, não fossem com intenções sérias, eram logo descartados.
                Uma tarde apareceu um rapaz de terno, o que não era de todo incomum, o incomum era a postura empertigada e o imenso nariz em figura angulosamente magra, o que me fez duvidar da continuidade desse namorico e não sem razão, pois pouco durou o namoro de mãos dadas a percorrer o quarteirão.
                Soube depois pela própria mocinha que indignada e entre risos me contou que o dito pretendente era tão religioso que tinha dois conselheiros espirituais, um padre capelão em igreja do centro da cidade e outro no Palácio do Bispo, mais próximo das praias.
                Disse-me mais a mocinha que o rapaz em questão  se confessava a ambos os padres e com eles trocava confidências e pedia diretrizes e que isso fizera bem recentemente  por ter a ela roubado um beijo não sendo rejeitado e tão indignado estava por a moça ter aceitado o beijo que gesticulava e esbravejava até que um perdido mosquito entrou-lhe pela bocarra aberta, dando-lhe um susto que acabou em surto! Quanto mais tentasse expelir o voador e sem sucesso, mais a nossa amiguinha era tomada por incontrolável acesso de riso!
                Disse-me ainda, que durou um bom tempo esse drama e comédia. Terminado estava o namoro.
                Por vezes me vejo a relembrar esse tempo e suas histórias, doces lembranças!
                Terão as mocinhas, que vi crescer, realizado seus sonhos? Estarão casadas, rodeadas de filhos e netos? Serão profissionais competentes?
                O que terá sido feito daquelas jovens que tanto coloriram minhas tardes preguiçosas?

                                                 Mariza C.C. Cezar