sexta-feira, 9 de setembro de 2016

MEUS SONHOS ADOLESCENTES...

                                                                                                                                  


                MEUS SONHOS ADOLESCENTES...
                                                   

                                                   
                Não sei dizer bem se os sonhos eram adolescentes ou apenas de adolescente, mas que eram apropriadamente sonhos românticos e alguns de grandeza, lá isso eram!
                Em criança pequena resolvi que seria princesa e depois rainha, com crueza minha tia-mãe me desiludiu e confundiu, pois disse taxativamente que eu nunca o seria, pois para tanto precisaria ter nascido de sangue azul! Como se desde sempre ouvira referência à nobreza e aos brasões da família que viera como colonizadores e que seriam primos do rei de Espanha e do Bispo de Plascência na província de Burgos, Espanha e ainda que em aqui chegando, o primeiro Camargo se casara com Joana Ramalho filha de Bartira e neta do Cacique Tibiriçá? Então realeza do lado europeu e do nativo!
                Enfim desisti do trono e resolvi que seria mulher de Embaixador e sonhava com as recepções e os safáris na África.
                Pobre menina que nem sonhar certo sonhava, pois nascera numa época em que mulheres eram meras figuras decorativas ou de sustentação, sempre no segundo plano ou por detrás das cortinas!
                Na adolescência, toda manhã, ao abrir a janela do quarto saudava o dia e ficava um bom tempo a namorar o morro de Sta. Terezinha e nele, a igrejinha  encarapitada bem no topo, sonhando que lá me casaria em cerimônia romântica e intima o suficiente para caber na igrejinha pequena e bucólica.
                Sonhava também que teria uma “hacienda” em plena selva amazônica e que lá chegaria em helicóptero particular.
                Confesso que esse sonho que não alimento mais ainda me é caro! Gostaria de tê-lo realizado!
                Outro sonho que logo se desvaneceu, desencantou, foi o presente de aniversário dos 15 anos de idade! Que desilusão o anel de brilhante incrustado em aro de platina quando sonhara com outro, de ouro e sinete para ser usado no dedo mindinho com as armas e brasões de família! Sonhara em lacrar as cartas cor de rosa e perfumadas com o timbre do anel, como se via nos filmes de capa e espada!
                Sonhos romanescos! Na verdade, pouco depois passei a sonhar com um lar, marido, filhos e  fumegante cozinha!
                Depois passei a sonhar e suspirar pelos namorados, pois um viria a ser o príncipe encantado que tornaria realidade o sonho infantil de ser rainha, só que agora do lar e da fumegante cozinha!
                Enquanto sonhava, estudava e depois o trabalho, passando a seguir, a fazer os dois, estudar e trabalhar sonhando realizar o sonho de fazer Direito do qual fora desviada pela imperiosa intervenção paterna.
                Estudava, trabalhava e terminada a Escola Normal, estava apta a lecionar. Prestei vestibular e fui aprovada.
                Terminado o curso de Direito em que sonhei me dedicar ao Ministério Público e ser Promotora de Justiça, pois essa é a missão dos Promotores Públicos, agir em defesa da sociedade!
                Em todo o Estado apenas duas exceções femininas no mundo dos homens e Justiça Pública e na Magistratura, nem sonhar se poderia, pois não era admitido nem em pensamento mulher nas fileiras do Judiciário Paulista!
                Sonhos abortados, pois eram sonhos adolescentes que careciam de realidade!
                Concursos públicos? Dois anos ou mais sem que fossem abertos no nosso Estado e, nos anos 70 era difícil deixar a família e se aventurar em carreiras fora do Estado.
                Enquanto isso sonhava ainda com o amor, com o lar, filhos e com o namorado.
                Casei com advogado e o sonho de seguir o Ministério Público perdeu para o casamento, não poderia correr comarcas e deixar o marido e o lar!
                Advogar? Seria em termos profissional o sonho reserva que também se diluiu na intransigência do marido.
                Os sonhos foram morrendo uns, outros fizeram “ploc” como etéreas bolhas de sabão!
                Cozinha fumegante eu conquistei e também o canudo contendo o diploma, de resto tudo se desvaneceu.
                Continuo sonhando, agora em manter o  imperdível bom humor e eventualmente conseguir um tento ou outro, no decorrer da monotonia do dia a dia e esse  não é mais um sonho adolescente!

                                                     Mariza C.C. Cezar
                                                                                                     

                                                                   
                                                                                 

4 comentários:

Flávio Tallarico disse...

Cara amiga: realmente os nossos sonhos de juventude eram difíceis de se realizar. Também tive meus sonhos juvenis que se esvaíram com o rápido passar dos anos. Mas estamos aqui hoje, vivos e realizados, não importando se não foram ou não desejos de uma juventude imatura -- devaneios que a realidade foi apagando com o imponderável passar dos anos. Tudo isto que eu tentei refletir, está melhor descrito em sua bela cronica.

Mario Sebastião Bonitatibus disse...

Como sonhamos Amiga Mariza, e, voamos nas asas da inocência, despertamos pousados na faixa da realidade, depois de longo voo... Gosto muito dos seus escritos!

Carlos Gama disse...

Minha cara amiga Mariza, como são evanescentes os sonhos, mas ainda assim, de vital importância para a vida e para a sobrevivência!
Desfaz-se um sonho? Sonhem-se outros, porque são o caminho da alegria.
Sonho é signo de vida e não pode ser abandonado, mesmo que já se pressinta o resultado.

Suely Ribella disse...

NÃO PROÍBAM!

A esperança vai e vem...
A felicidade, se vem, vai...
Sonho, porque sou teimosa.
Ninguém pode
me proibir de sonhar.

Suely Ribella ©

(Sonhemos, Mariza, sonhemos!)