terça-feira, 30 de agosto de 2016

QUASE! POR MUITO E...POR POUCO!

                                                                                                                                           


                QUASE! POR MUITO E...POR POUCO!

                                                                                                                                                                                                            


                Quando se mudaram para Santos, a família até encontrar residência fixa, hospedou-se  em agradável e belo hotel rodeado de jardins e bem defronte ao jardim da praia.
                Esse hotel tinha escadaria dupla de mármore branco, móveis de estilo, belas cortinas e mágicos lustres de cristais pendentes do teto que iluminavam festivamente os ambientes.
                Fino o trato e seletos os demais hospedes, alguns com filhos e ela, criança, logo fez amizades sob os olhos vigilantes dos tios responsáveis e amorosos, com cuidados às antigas.
                Finalmente foi-lhe e por imposição materna, feita a matrícula em colégio de ensino oficial, vez que a tia e madrinha, que era professora, a alfabetizara aos três anos de idade e vinha diária e sistemicamente ministrando-lhe aulas.
                Entrou para o ensino oficial aos oito anos de idade, em colégio de freiras agostinianas, tido como excelente em termos curricular como também de frequência, corpos docentes e discentes primorosos e de tradição.
                Gorducha já que era bem alimentada, com cuidados nutricionais minuciosos e às antigas, mais o “leitinho” diário que era o Calciogenol Irradiado, foi criando volume que junto às boas maneiras que lhe eram incutidas, mais os cuidados exagerados que impediam movimentos destrambelhados e espontâneos, por etiqueta e também visando evitar acidentes e machucados. Menina bem comportada, acompanhava aos adultos a concertos e apresentações de declamadores.
                 Passava as férias com os pais e irmãos que moravam no interior.
                Naquele ano os pais haviam se mudado para Presidente Prudente, uma bela e progressista cidade da alta sorocabana e como haviam se mudado a pouco, pegaram provisoriamente a primeira casa que aparecera, em bairro sem calçamento, casa boa, de alvenaria e com belo terraço, boas acomodações, estilo moderno para a época, com jardim e pomar, poço no fundo do quintal e uma “casinha”, esta de madeira e fora do corpo da casa.
                Nessa casa a menina teve seu primeiro contato com a terra e seu canteiro particular e que delicia achou descobrir mudas de belas flores pela vizinhança e plantá-las na terra! Podia até se sujar!
                Ver brotar a plantinha dava imensa satisfação! Sentia-se produtiva, criativa, poderosa e livre!
                Quanta alegria! Um mundo diferente lhe era descortinado e ela fazia parte dele!
                Comprar papel manteiga ou de seda com a mãe, e com varinhas de bambu faziam belas pipas ou papagaios que à tarde, depois do banho, quando iam todos para a calçada brincar e a mamãe que ia junto, ensinava e brincava correndo até que a pipa levantasse voo, empinasse, cabeceasse e desse cambalhotas pelos ares. Até o pai às vezes aderia à brincadeira!
                Foi numa dessas tardes que a menina gorducha e de roliças coxas, apertada que estava, a correr entrou na “casinha” ali do quintal e desajeitada se aprumou para fazer o imperioso xixi. Desastrada errou o foco ou a posição, escorregou e... Salva pelas coxas gorduchas que ficaram entaladas no quadrado do chão, impedindo-a de morrer afogada na fossa!
                Até antitetânica tomou!
                Quase! Por muito nas coxas e por pouco, muito pouco é que a menina se salvou com alguma experiência e história para contar!

                                        Mariza C.C. Cezar
                                                                                                          

                

domingo, 21 de agosto de 2016

À ESPERA DE UM MILAGRE...

                                                                                                                                                     
                          À ESPERA DE UM MILAGRE...
                                                                                                

                Ando esperando, ansiando por um milagre, pois sinto saudade de mim!
                Rezo pelo retorno da fé, em mim, na humanidade e nos mistérios da espiritualidade, quem sabe até da sorte fugidia.
                Oro a Deus, a seus anjos e santos, ainda à Onipresença D’Ele em mim e que disso, eu venha a ter     certeza e absoluta confiança!
                Faz muita falta o meu usual bom humor, a bonomia e até um certo olhar marcado pelo cinismo, com uma tendência galhofeira de encarar os embates e azares da vida e os equívocos do cotidiano, até as minhas ocasionais e possíveis travessuras.
                A razão desses amargos tons de cinza a nublar a luz do meu olhar, esse peso de chumbo a afundar a esperança e o ânimo e a emporcalhar no lixo fétido a espontânea alegria do viver?
                Dores do corpo e da alma, desencanto, descrédito do regime instituído e de alguns laços pessoais.
                A descoberta sabida já, mas nunca antes sentida, do que é ser só!
                Não sofro de solidão pois a desconheço, me sinto plena em minha boa companhia e por essa mesma razão, confraternizo com fácil e alegre espontaneidade, fazendo e colhendo amigos, entretanto a constatação da falta de chão, de uma mão amiga, de um abraço carregado de carinho e de solidariedade, doem!
                E doem no momento  do descrédito, ante o insulto e desrespeito das coisas públicas, da falta de lhaneza e de caráter daqueles que investidos nas urnas, do poder pelos nossos votos, conduzem a massa impiedosa dos servidores robotizados que venderam a alma e seus princípios e os juramentos acadêmicos, por salários certos e nem sempre condizentes com suas especializações.
                Pobres mortais, na realidade parasitas sugando a vida, a esperança, a dignidade, a alma da massa humana e dos pobres indivíduos que a eles  recorrem em busca do reconhecimento de um direito líquido e certo, adquirido mas não reconhecido e descartado pela batuta dessas “otoridades” que recebem dos cofres públicos, pagos por nós os pedintes dos nossos direitos e dinheiro que engrossam o erário público que pagam os seus salários!
                Não podem ou não devem reconhecer nossas doenças e direitos, pois o Estado precisa da parcela dos nossos minguados salários, mesmo que a nós façam falta, nas muitas necessidades das doenças e da idade a que usam ou ousam chamar de “terceira”(dentição?) ou ainda de” melhor idade” !
                O homem vive para o Estado, não o Estado para os homens!

                                     Mariza C.C. Cezar
                                                                                                      

                                                                                

sábado, 6 de agosto de 2016

O BRINDE DO BRUXO

                                                                             
                                                                       
                              O BRINDE DO BRUXO
                                                      
                                                       

                Era menina no tempo em que aos 12 anos a adolescente ainda era criança de laço de fita nos cabelos, babado no corpo do vestido para esconder os seios que em pequenos botões ensaiavam o desenvolver. Os irmãos menores também crianças inocentes e o Natal já passara com visita do Papai Noel, o velhinho simpático  que nos deixava presentes, se não o esperado, deixava outros que também nos punham contentes.
                Estava a se aproximar a ceia da passagem de ano e minha mãe a cozinhar, cuidava dos preparativos como todo ano fazia, pois pela tradição  da sua família a data especial era esperada, preparada e festejada com todos os recursos que a sorte e o ano permitissem, mais seus sacrifícios e dedicação para oferecer à família e ao ano novo, o melhor.
                Aquele ano, teríamos um conviva, amigo recente de meu pai, com ares misteriosos e a mim antipáticos, mas não ousava me manifestar, era criança e às crianças não se permitia pareceres, no entanto percebi que minha mãe comungava com a minha opinião sobre o convidado de meu pai.
                Mesa posta com os requintes que a ocasião pedia, e o bolso permitia, os assados a preencher a casa com cheiros convidativos, frutos frescos e os secos, farofa doce e a salgada, maionese e doces para a sobremesa, vinho tinto e refrigerantes, tudo apetitoso e a contento.
                Todos em roupas festivas e muita expectativa a despeito do clima de discussão havida horas antes às portas fechadas no quarto de meus pais e que deixara  certo mal estar pairando no ambiente.
                Chega o convidado com seu grande anel de pedra preta que vim a saber se chamar ônix e que meu pai abaixando a voz tinha dito ser pedra de grande força e magia e que só os graduados em ocultismo poderiam usar e o anel desse senhor, tinha uma incrustação em ouro sobre a referida pedra.
                Chegou o bruxo, pensei sem muita animação e vi quando entregou um pacote de bom tamanho a meu pai dizendo que seria para o brinde da meia noite, com o fim de trazer prosperidade.
                Nova troca de palavras tensas entre meus pais na cozinha, enquanto eu e meus irmãos procurávamos fazer sala ao visitante.
                A ceia transcorreu dentro da normalidade pois os quitutes de minha mãe eram adoravelmente saborosos e nos colocaram em festa e gula.
                A meia noite chegou e o conviva se dirigiu à cozinha com meu pai e retornaram solenemente trazendo às mãos o presente por ele oferecido e, feita uma oração, abriram a primeira garrafa de vinho da noite e a despejaram no recipiente ofertado e então, para surpresa e asco nosso, foi-nos recomendado que  tomássemos um único gole do vinho servido, para que o ano novo trouxesse prosperidade, e o recipiente era um grande penico branco que nos garantiram ser virgem e devidamente higienizado!
                Que horror! As crianças choravam e eu, com lágrimas nos olhos e estomago embrulhado, tentei ser obediente, mas não consegui!
                Por muito tempo me perguntei se fui a culpada pelo ano difícil e de parcas finanças que passamos durante aquele ano que acabara de chegar.

                                                 Mariza C.C. Cezar