sábado, 26 de dezembro de 2015

PÉS...

                                                                                                                       

                        PÉS... 
                                                 


                      Pés que me carregam pela vida!
                Pés que me sustentam e conduzem pela caminhada, curvas e esquinas do viver!
                  Pés que já foram tão lindos, sofisticados, atrevidos, pés que se deixavam ficar languidos, ou que se erguiam da cama encostando-se ao balaustre da janela, nas longas horas de leitura, pela adolescência afora! Esses pés marotos, brincalhões que adoravam beliscar aos incautos e que gostavam de pular, saltitar e que com três anos, pararam um baile de adultos levando-me a bailar suspensa em suas pontas!
                   Esses pés bailarinos nascidos para dançar! Pés que não escolhiam ritmo  e que com graça e perfeição rodopiavam por salões  ou terreiros de chão batido em treinos de escolas de samba, marcando o ritmo, saltando fogueiras, dançando quadrilha pelos sertões!
                    Pés graciosos que desfilaram por passarelas e salões e pontificaram até na televisão! Pés que mesmo a contragosto me levaram ás feiras livres, ás compras e me sustentaram durante horas e por longo tempo da pia ao fogão! Esses pés caprichosos que se punham bonitos, catita e prestativos com porte compenetrado e intelectual, me levaram a todos os níveis escolares e aos bancos acadêmicos, grupos de estudo, debates e congressos.
                Pés que por 31 anos me levaram ao trabalho, que  caminharam pelos corredores forenses e salas de audiência! Pés que adoravam apertar o acelerador quase até a tabua dos meus muitos possantes e que com isso se sentiam no controle enquanto davam imenso prazer!
                   Pés que me sustentaram e incentivaram a continuar nos desencantos vividos, que me arrastaram e empurraram a prosseguir quando o espírito se mostrava alquebrado!
                    Úteis e amigos solidários, esses pés que já foram tão lindos, hoje depois desses tantos anos de caminhada, se mostram judiados pobrezinhos, atacados pela artrite reumatoide, disformes e claudicantes! Pés amigos e fiéis que mesmo assim, insistem em ser úteis e a compartilhar comigo alguma proeza.
                Bravos pés companheiros! Sou-lhes grata! Quero que saibam que conto com vocês por muito tempo ainda! Comecemos então mais uma etapa no ano novo que se avizinha! Salve 2016 e todos os que virão !


                                      Mariza C.C.Cezar
                                                                                                                                      
                                                                                     

domingo, 13 de dezembro de 2015

SILÊNCIO!

                                                                           
                                                                                               
                                         SILENCIO!
                                                                                                      

                Caluda! Silêncio! Psiu! Nem um pio, por favor! Olhos e ouvidos atentos!
                Liguem suas antenas, periscópios possíveis, e coloquem o”piscinée”, o ambiente exige respeito e atenção admirativa e reverente!
                Estamos em pleno mundo da magia, das possibilidades, em que o possível e o impossível coexistem, acontecem!
                Agora e aqui, o passado e o futuro se atropelam e se encontram, dão-se esbarrões e a ciência e a fé, a matéria e o espírito, a realidade e o realismo, o imaginário e a fantasia, todos  se inter-relacionam !
                Aqui a poesia  e a prosa, a oratória, as formulas e cartografias interagem, se entendem ou desentendem, convivem.
                Adentramos a um santuário em que os costumes e o tempo se atropelam, se estranham mas se abraçam, interagem!
                Aqui a verdadeira torre que leva ao céu paradisíaco do conhecimento diversificado e absoluto! São aceitas aqui, todas as diversas  correntes, apenas as correntes que aprisionem ou cerceiem a livre manifestação do pensamento são excluídas.
                Neste local, o cheiro do velho se mistura ao do novo e é um perfume inebriante! Não se trata de apenas uma floresta, mas de verdadeira mata do saber!
                Todas as nações e eras coabitam este mundo de mundos! Este é um mundo ecumênico em que o único Deus é o conhecimento e tudo e todos a Ele de curvam e Dele bebem e nunca se saciam, sempre e sempre a mais querer!
                Funciona por vinte e quatro horas e quem tem olhos para ver e ouvidos para ouvir, pode encontrar os mais diferentes espíritos e também almas penadas, espíritos de porco e ás vezes fantasmas e até alguns elementais!
                Devem saltar de suas prateleiras, lá pela meia noite, poetas das mais diferentes escolas, romancistas, cientistas, historiadores, cartógrafos, e todas as áreas do saber devem comparecer e interagir, filosofar, debater, defender suas teses, discursar ou transmiti-las aos que quiserem ouvir!
                Quantos autores consagrados saltarão dos seus lugares demarcados! Quantos escritores frustrados buscarão um lugar, ou ainda se fazer notar, conhecer, quantos editores que deixaram de publicar este ou aquele livro ou tema, andarão a procura do “furo” a publicar!
                Quantos candidatos desenganados, suicidas desesperançados, buscarão na dança das horas noturnas e boêmias “um lugar ao sol” do reconhecimento!
                Quantas charges e caricaturistas  confraternizarão com épicos e epopeicos poemas ou sérios discursos e seus oradores!
                Ah! Os fantasmas das Bibliotecas! Seria no mínimo curioso poder assisti-los nesses encontros noturnos, nesses “saraus” e púlpitos, nesses debates e confraternizações!

                                   Mariza C.C. Cezar
                                                                                                   

                                                                                  

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

PROEZAS E AVENTURAS

                                                                                   
                                                                                             
                                                           PROEZAS  E AVENTURAS 

                Meus amigos,
                                                                                                              

                        Já corri tanto por essas estradas do interiorzão!                          Ja andei e não poucas vezes por estradas de barro vermelho com corrente nas rodas de Jipe que atolavam e patinavam espalhando lama para todos os lados, já atravessei pontes parecidas com essa só que não tão longas e nem com uma carreta atrelada ao carro, já andei por "mata burro" e atravessei " pinguela", ´j  a parei em mucunfos de beira de estrada pela madrugada e esquentei o corpo e espantei o sono  com uma mistura que meu pai me apresentou e da qual me lembro sempre e ás vezes,  com saudade, café preto e quente, puro, batizado com uma dose de conhaque.
                              Quantas vezes vi o dia amanhecer nas estradas! Meu pai gostava de viajar á noite e nos arrancava da cama pela madrugada, a noite ainda breu e estrelada, para empreendermos as viagens de recreio ou mudança, ainda as de visitas a familiares, lindo o amanhecer na estrada, os mais lindos que já vi, o céu se tingindo de rosa ou laranja e dourado dos raios solares que surgiam no horizonte ainda com algumas estrelinhas teimosas e retardatárias a brilhar no lusco-fusco do céu! Arvores por vezes nuas a erguer seus desnudos galhos como se fossem mãos em garra a se elevar em clamor a pedir misericórdia aos céus, e como essas árvores e seus galhos calavam fundo em meu peito!
                              Já vi meu pai cansado  e dormitando ao volante , acordar gritando : "Olha a ponte, olha a ponte e estancar abruptamente o carro em enorme poça d'água no meio do leito carroçável desnudo, assustando a todos nós! 
                              Com meu ex-marido e sua filha, já dormi, melhor dormimos todos uma madrugada super fria apesar dos nossos muitos agasalhos e casacos de couro, com a roupa do corpo e as botas de cano alto, em dormitório de posto de gasolina que alcançamos no meio da estrada do sul , em longo trecho ermo lá pelos  lados de Vacaria e os três de roupa e tudo em razão do frio e do receio dos leitos conseguidos em tão rudimentar hospedaria !
                              Se desde criança viajei de avião o que na época era proeza a que poucos tinham acesso, também já tive minhas aventuras pelas estradas do meu país, já me maravilhei com coisas belas, já tive medo em outra ocasiões, já roubei frutos do pé na beira da estrada, isso em criança, tomei banho de rio , saltei fogueira e dancei na roça, fiquei em palanque de autoridades, frequentei jantares festivos do Rotary Clube , assisti a concertos , incontáveis pianistas, á Guiomar Novais, ás declamações da Margarita Lopes de Almeida!                                                              Já discursei de improviso em recepção oficial para  autoridades , embaixadores e representante do Governo do nosso Estado.
                               Um tanto aventureira outro tanto atrevida, venho percorrendo a estrada da vida e se estou a lhes contar tudo isso foi em razão  da travessia da “PONTE ECONÔMICA” que assisti em e-mail recebido de dileto casal amigo.
                             Agradeço a paciência solidaria ou curiosa de tantos quantos leram minhas lembranças.
Abraços a todos vocês.

                                            Mariza C.C.Cezar