domingo, 25 de maio de 2014

UM PIERRÔ APAIXONADO

                                                                                                                                                                         
                                      UM PIERRÔ APAIXONADO
                                                              
                                               

                   Tão linda e sedutora, sem a mínima consciência dos olhares cobiçosos que a seguiam, brincava alegre e despreocupada ao som de velhas marchas.
                    Sorria e rodopiava dançando alegremente sob chuva de coloridos confetes, em sua fantasia de cigana e, criança que ainda era, o que roubava eram corações e desejos despertados, aguçados justamente pelos encantos seus de brejeira menina mulher!
                    Perdido de amor, entrei no salão seguindo os rastros seus e arrebatando um pandeiro de mãos incautas,  caí no sassarico tentando me fazer notar!
                   Triste de mim! Dancei, saltitei, rodopiei alguns passos de efeito sem levar qualquer jeito para aqueles folguedos!
                    Pouco importava! O que não podia era me afastar, perdê-la de vista, não tentar e me entregar ao desânimo, à pequenez do nada fazer, não ousar!
                      Sobrepujei à habitual timidez, levado, motivado por razões que empurravam, animavam, incentivavam!
                      Rodopiei a noite toda qual mariposa buscando a luz e, era a luz dos olhos seus que buscava, assim como o brilho do seu sorriso que eu tentava ganhar e assim, tentei e tentei até o baile acabar.
                     Vi quando se afastou junto a um grupo grande e alegre entrando em carros e estes  em corso, seguiam entregando  baianas, havaianas, colombinas, piratas e alguns malandros pelo caminho.
                     Sem alegre fantasia, me quedei a um canto a suspirar apaixonado, a assumir desolado, a envergadura de palhaço que canta, samba e sorri estando, por dentro alquebrado, sem saber a que se ater.
                    Noite mal dormida, entrecortada aqui e ali por sonhos e pesadelos.
                     Com o raiar do dia, um fio de luz encheu meu coração de redobrada esperança, elevando-me os brios e renovando a ousadia.
                     Comprei uma fantasia de pierrô apaixonado.
                      Expectativas, projetos, esperanças, levaram-me ao meio do salão.
                 Encontrei minha musa, minha deusa, a cigana dos meus azares e dos meus amores!
                   Marchamos, sambamos, rodopiamos, saltitamos as várias cadências, ela curtindo os três dias de “porteira aberta” a alforria da alegria e eu, me deixando embebedar pelos requebros seus!
                   Em dado momento ousei e, lhe entreguei junto com meu amor, uma flor que levara justamente para lhe ofertar!
                  Seus dedos tocaram por brevíssimos momentos nos meus, que se enregelaram, congelando todo o meu ser.
            Estanquei petrificado pela emoção e ela, guardando ao peito o meu coração em flor, seguiu bailando, brincando inconsequente à minha dor, ao meu torpor!
                 
                          Mariza C. de C. Cezar
                                        
                                             

                                                    

sábado, 17 de maio de 2014

O AMANHECER DE MIGUEL - SUB TÍTULO: "CANELA EM PÓ"


                                      Boa noite amigos! 
                                      Hoje trago a vocês um texto de minha sobrinha Gisele Cezar Martins, bem diferente das minhas postagens habituais, e que a mim agrada bastante, talvez por essa  mesma razão, pois foge ao lugar comum.
                                      Espero que agrade a vocês como agrada a mim.
                                      Um grande abraço a todos e uma ótima semana também.


                                              Mariza C.de C. Cezar
                   
                                                                                                           


                                            O AMANHECER DE MIGUEL
                                                 CANELA EM PÓ
                                                                                                                               
                                                              



         Miguel Comum como o próprio nome já diz, era um homem comum, tão comum que no meio do povo, no meio da rua, era difícil distingui-lo dos demais.
         Seus cabelos podiam ser pretos ou castanhos, longos ou curtos, tanto faz se lisos ou cacheados, nada absolutamente nada o diferenciava de si mesmo.
         Todos os dias de todos os anos de sua vida, ele brigava com o relógio que o acordava aos gritos, se é que relógio poderia gritar, mais precisamente às cinco e quinze da manhã, seus olhos se abriam sem nada enxergar, suas mãos mecânicas calavam o despertador como quem estrangula a noite que chegou ao fim e, sem vontade de continuar, se levantada da cama de molas estouradas que, de tão velha e amiga, já tinha tomado a forma do seu corpo que poderia ser magro ou gordo, grande ou pequeno, ágil ou moroso, tanto faz, as molas de qualquer jeito iriam saltar.
         Miguel Comum não sofria de insônia, não sorria de felicidade, não era feio, tampouco bonito, não tinha grandes amigos mas também não era solitário, não chegava atrasado e nem corria adiantado; pegava o mesmo trem, o mesmo metrô, a mesma escola, a mesma mulher, pegava os mesmos sapatos e os calçava como quem não poderia pisar num mundo diferente do que sempre pisara.
         Pegava seu direito de escolha, que ele não sabia que tinha, e guardava no bolso como quem guarda o último tostão para uma “birita”, no mesmo bar da mesma esquina antes de ir trabalhar.
         Miguel Comum era assim, um homem qualquer, digo era porque naquela manhã de qualquer dia, em qualquer mês em que nem se sabe o ano, suas mãos estrangularam o relógio precisamente às 5:15 hs.. Seus olhos se abriram como quem não quer acordar, e sem muito se espreguiçar Miguel Comum levantou seu corpo que não era leve e nem pesado, da cama de molas rangentes e, sem precisar pensar muito foi direto à cozinha ferver água para o café.
         A mesma xícara, a mesma mesa, o mesmo tempo de fervura, a mesma brandura estampada no rosto, o mesmo pó amargo, a mesma cadeira rachada que o fazia se equilibrar de um lado para o outro, o mesmo Miguel Comum exceto por um detalhe em que ele nunca havia reparado, ou quem sabe houvesse, mas não como naquela manhã de qualquer dia, em qualquer mês de que nem se sabe o ano.
         Bem à sua frente, pousado na mesa, o cesto de palha que escondia o pão do desjejum e que engolia os segredos ali enfiados e que apimentava os temperos esquecidos, nesse cesto que Miguel olhou e viu!
         Pela primeira vez seus olhos se abriram e ele enxergou perdido em um canto, amontoado entre as sobras para o dia seguinte, um saquinho rasgado que ia se esvaziando aos poucos pelo cesto, um saquinho igual, um saquinho qualquer, também comum, de canela em pó.
         Na mente comum do saquinho igual ao Miguel sem par, a canela em pó se transformou em uma bela cinderela instantânea, estourada como pipoca no micro-ondas da casa da vizinha ao lado.
         Miguel Comum então criou uma estória encantada, de um homem qualquer que corria da vida agitada de pronta entrega no fast-food da sua barriga vazia que comia enlatado de televisão a cabo que não existia no espaço oco de seu coração, o bate-papo globalizado pela internet do conto de fadas ultrapassado, de uma geração de papa-léguas modernos.
         No micro-ondas ao lado, na casa vizinha, estourada como pipoca num saquinho instantâneo, a cinderela encantada crescia no sonho do nosso já não tão comum Miguel qualquer e ele continuava a criar não mais uma estória, mas um conto que o despertava e o fazia se lembrar do sei direito de escolha que guardara no bolso e assim, ele descobriu que poderia ousar!
         Naquele dia Miguel Comum não foi trabalhar, também não foi passear, o mundo não sabe o que foi feito dele, pois jamais o conheceu e mesmo que o conhecesse, não faria diferença, pois tanto faz se ele era alto ou baixo, magro ou gordo, qualquer um ou como o próprio nome já diz, um comum que resolveu não ir trabalhar.
         E o nosso Miguel?
         Continuou comum, sentado à mesa, na cadeira rachada, olhando o saquinho rasgado, do sonho que escorria do canto direito do seu lábio, da canela em pó que esfriava na xícara de café sobre a mesa, criando em sua mente, o conto de fadas que o fazia diferente.

                                                                       Gisele Cezar Martins
                                                                                                                                                                                            


sábado, 10 de maio de 2014

ENTRE PAPOS E SERESTAS

                                                                           

                         Boa noite amigos! Hoje muito feliz com o premio recebido, aqui posto como prometido, a poesia criada especialmente para o concurso instituído para o lançamento do primeiro livro de poesias de: Cida Micossi,  que está ocorrendo justamente agora!
                         O concurso pedia um poema que tivesse em seu corpo o título do livro da Cida, isto é : " DE MIM E DOS QUE AMO" e eu tive a honra e o prazer de ter o meu : "ENTRE PAPOS E SERESTAS" como um dos dois premiados no referido concurso.
                          Me penitencio por não poder comparecer ao lançamento do livro da Cida, e isso ocorre por estar com uma virose violenta que alem de dores muito fortes me deixou com parte do corpo coberta por erupções que me impedem até de me vestir adequadamente.
                         Cida minhas homenagens, meus respeitos, aplausos e carinho!
                                                                                   
                                                                                                                                      Mariza

                                                                                                                          
                                                     

 ENTRE PAPOS E SERESTAS
                      
                              

Tantos e tanto falaram
de mim e dos que amo!
Doces palavras contaram
lindas estórias cantaram
de mim e dos que amo.
Foram tantos os seresteiros
tão diversos os ditos versos,
coisas más, outras boas
de mim e dos que amo.
No começo me comprazia
com belos ritmos e loas
em ditos de tais festeiros.
Mas se amo a bela poesia,
poetar não é o meu forte!
De mim e dos que amo
aos céus clamo pela sorte!


                         Mariza C. de C. Cezar
                                                                                

domingo, 4 de maio de 2014

DOR DOÍDA!

                                                                                                                                                   
                     DOR DOÍDA!




        Extenuada pela dor,
        sem ânimo para compor,
        sequer pensar em escrever!
        Exangue, contida, sem calor,
        sem ardor para expressar,
        sem ânimo para contar,
        indisposta até para pensar,
        saber o que dizer,
        sequer compreender ou ver
        o que vai na alma,
        na carne, o que sente
        no corpo, num repente
        da contínua e densa
        dor, aguda arranca ais!
        Gritos quebram a calma
        Assustam a mim e aos demais!
        Volto à dor contida,
        constante e doída,
        aguardando que se acabe
        esperando quem sabe
        que se vá, e até nunca mais!

                          Mariza C. de C. Cezar