quinta-feira, 29 de setembro de 2011

CAMINHO E LUZ

             CAMINHO E LUZ

             Muitas são as moradas e, vários os caminhos que levam á luz e, todo de luz em refração o caminho que se faz em alegre e colorida ponte que abriga em seu fim um cobiçado pote de ouro, simbolizando a riqueza da sabedoria, o raio dourado que integra a chama trina da Luz Divina.
            Quando se fala em caminho, vem á mente luz, seja a luz do fim do túnel, ou o jogo de luz e sombra ao longo das estradas, seja o rastro de luz deixado nos céus pelas estrelas cadentes.
            Quando se pensa em luz, busca-se o caminho para atingi-la, para alcançá-la e a ela se integrar em andanças e danças de louvor e explosões de êxtases.
            Bucolicamente, é a luz do pirilampo que ao bailar na noite escura, traça um fulgurante e alegre caminho a brilhar e atrair mãos sequiosas de crianças e corações românticos de enamorados.
          A luz do sol traça um caminho flamejante ao surgir no horizonte e, caminhar ao longo do dia,  para se por novamente no horizonte, no ponto oposto ao do nascente, para morrer ao cair da noite, no poente.
          A luz da vela ilumina a escuridão da noite, como á das almas, mostrando o caminho e objetivo a ser seguido e alcançado.
         A luz dos holofotes, dos faróis e lanternas, orienta e encaminha aos perdidos na escuridão.
        A luz dos faróis traça caminhos para nortear os navegantes e rotas nos mares.
        A luz dos refletores, trás brilho, glória, alegria e, ilumina os caminhos da arte e dos palcos.
        A luz da mente nos leva a alcançar metas e objetivos e nos faz exclamar: “Eureca!”
        A luz da alma nos encaminha á reintegração á Unidade, e assim nos fazemos Luz, pelos caminhos do Amor.

sábado, 24 de setembro de 2011

VELHAS SENHORAS

                   VELHAS  SENHORAS



                   Gostaria de poder dizer, de contar a vocês, a história daquelas três velhas senhoras.

                   São irmãs, são pintoras, são amantes da poesia, mas são também diferentes entre si, qual cão e gato, são medrosas as velhas senhoras, fantasiosas, eruditas as ditas senhoras.

                  Uma é professora com “P” maiúsculo, de grau colado na velha Escola Superior de São Carlos, outra a Doutora, é medica-pediatra de velha data, das primeiras pioneiras, a ousar de tal maneira, de tese defendida, doutora com louvor, a terceira não tão velha, de cara de gato como a primeira, mais moça, mais bonita, mais moderna,  e decidida, é pintora premiada também como a primeira, mas esta é formada pela Escola Superior de Belas Artes de São Paulo.

              São todas pioneiras, todas elas tradicionais senhoras, em maneiras e formação, dos pioneiros descendentes, filhas daquelas gentes que desbravaram o sertão, netas dos bandeirantes, tataranetas de Bartira a filha de Tibiriçá. Trazem nas veias o sangue azul de além mar, e dos gentios donos da terra, gente forte, de boa fibra.

             Quando disse tradicionais em maneiras, me esquecera da segunda, irreverente por profissão, moleca desde sempre, aquela que destoava da criação dada aos irmãos, boa gente entretanto, boa médica eu garanto.

            São vaidosas as senhoras, vaidosas e coquetes, muito mais a primeira que é mimosa e cheirosa, cheia de tremeliques, enquanto estabanada a segunda e, sisuda a terceira de bom coração, aliás o que é predicado de todas elas, de uma mais que de outras, mas todas o têm, disso estou certa.

         Á primeira, velhinha coquete e mimosa, devo minha formação, á segunda, sem dúvida por vezes sem fim, á sua profissão e devoção, devo a vida e, á terceira e sincera amiga, venho devendo grande incentivo e solidariedade!

        Que Deus abençoe ás velhas senhoras, senhoras velhas do meu coração!

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

MENINA DE ROÇA






                MENINA  DE  ROÇA
                Quisera ser menina de roça,

                 Iguar aquela moça donzela de arraiá,

                 C’us laço de fita,

                 Os cabelo amarrá

                 E no peito mimoso e pequeno,

                 Fremente por sob a chita,
                 Uma frô colocá,

                  Pr’á cum toda garridice,

                  Com muito chiste e momice,
                  Na pracinha do amarrá égua,

                   N’um domingo, dia de festa,

                   Os zóios tremilicá

                   Enquanto os cabelo a repuxá,

                   E na boca um sorriso brejeiro,

                   N’um atrevimento de quem sem jeito tá,

                   Toda engomada e catita

                   Moça-donzela bunita

                   O seu amo provocá.
                   Quisera bebe água na bica,

                    Sentí o cheiro de mato

                    Deitá os zóio pelo roçado
                   Escutá das aves o gorjeio,
                   De manhãzinha e no deitá do sol,

                   Saltitá c’us grilo e voltiá
                   C’ás borboleta, de frô em frô posá.

                   Namorá de relanceio

                   Suspirá toda de anseio,
                   Pelo seu bem encontrá,

                   Cum ele trupicá

                   Cumo quem nada qué,

                   Em seus braços se enroscá

                   Tar car gata manhosa

                   Que nun sabe d’onde veio

                   Aquela pedra tinhosa

                   Que bem no meio do caminho

                   Onde ia dar o seu passinho,

                   Seu pezinho descarço cutucô,

                   E assim, assustada e ferida,

                   A moça-donzela desprevenida

                   Foi caí em braços fortes

                   Daquele mesmo caboclo
                   P’rá quem toda toda se enfeito!

terça-feira, 20 de setembro de 2011

P R I M A V E R A

                  P R I M A V E R A                                           

                  Esse título sempre me traz á memória, a piadinha infame e pessoal que teima em me lembrar que não tenho nenhuma prima Vera e, continuando no mesmo espírito, desta vez com mórbido humor negro que me traz á lembrança a constatação que pondera: mas são tantas as suas primaveras!
                  Verdade, tantos anos decorridos...tantas primaveras vividas, tantas flores colhidas, algumas em buquês recebidas de amigos e admiradores, outras surrupiadas ás pressas de jardins ou, em muros colhidas, ainda de campos ou de matos nativas, flores belas e perfumadas a alegrar uma alma sofrida ou, por sonhos encantada.
                  Flores selvagens ou mimosas e festivas flores do campo, ainda flores com cuidado cultivadas, algumas raras flores de estufa, tantas outras mensageiras festivas de afetos, de amores, de meras lembranças ou de honrarias, flores testemunhas e mensageiras de saudade, derradeiras homenagens pranteadas aqueles que se foram para outros jardins suspensos ou, quiçá em dimensões paralelas.
                Flores que escolhidas pelas fadas e por cupido, cumprem seu papel, cada uma e todas elas, de levar recados, estímulos, promessas, juras, convites, esperanças, ás vezes portadoras de ilusões e enganos. Mas sempre sinceras portadoras de beleza e elegância, preitos de saudade e de alegria, sempre carregada de odores, de perfumes e de cores.
               Dignas súditas de Cordélia, a bela deusa da Primavera, bem como das flores de verão, também chamada Creiddyland ou Creudyland e que é tida como protetora das fadas e flores e que foi retratada por  Shakspeare como a filha carinhosa do rei Lear e que diz tecer a sabedoria estelar das energias astrais com os fios feitos com a poeira das fadas e o pólen dos sábios da natureza e, que entre outras coisas favorece á jardinagem e ao paisagismo, bem como á alegria e ás celebrações, renovando o espírito daqueles que a invocam, trazendo-lhes ar fresco e o perfume das flores assim como a luz benéfica do sol.

              Se o panteão indú tem em Krishna  também conhecido como o Divino, o protetor das flores, da jardinagem e das colheitas, bem como da alegria e, entre outras coisas do despertar espiritual, o ocidente, nos dá uma santa famosa e de muitos devotos seguidores, conhecida como “Tereza de Lisieux”, “Terezinha do Menino Jesus” ou, simplesmente” Florzinha de Jesus” ou “A Pequena Flor”, ou apenas  “Santa Terezinha” que em vida, em seus momentos derradeiros, prometeu que: “ Depois que morrer, farei cair as bençãos de Deus sobre a Terra, como uma chuva de rosas” e, desde então é sempre associada a essas flores e seus fiéis devotos, sabem que ela ouviu suas preces e pedidos, quando ganham uma rosa ou apenas quando vêm essa flor, a ser considerada a padroeira dos floristas.
               Vemos meus amigos, que todas as culturas e credos,tem dos céus seus mensageiros e protetores das belas flores que brotam da Mãe Terra que todos os anos se engalana em festa de formas , cores e odores, alegrando e elevando o espírito, por vezes combalidos de seus filhos, como um presente, uma promessa, uma dádiva em penhor de amor, alegria, esperança e renovação, que se perpetua anos após anos enquanto vida existir neste nosso planeta azul. 

domingo, 18 de setembro de 2011

S O N H O S

                      S O N H O S
            Sempre sonhei muito, quer acordada quer dormindo, sonhos coloridos, com sabores, odores e sonoplastia, sonhos vívidos, alguns macios, suaves, outros cheios de vida, ritmo e aventuras, outros ainda de grande criatividade e mais outros, carregados de angústias, medos, sofrimentos, aqueles a que chamamos de pesadelos, se bem que estes mais raros, pelo que agradeço aos céus e ao inconsciente.
           Certa vez sonhei que estava com outras pessoas e todos vestindo calças brancas e batas ou camisões largos e despojados, em uma praia rochosa e  das pedras, recolhiamos corpos, pois em um abrigo natural, em uma grande caverna,  acolhíamos crianças e adolescentes sobreviventes a quem alimentávamos com o cozido de um grande e fumegante caldeirão de ferro, onde colocávamos as costelas dos corpos recolhidos e que, com batatas e raízes, iriam alimentar  aquelas bocas famintas.
          Era um momento sério e urgente em que cuidávamos da sobrevivência, do resgate e perpetuidade da raça humana e do planeta Terra.
          Despertei desse sonho com uma sensação esquisita, um misto de surpresa, horror e paz ao mesmo tempo, a paz de ser útil, de acreditar no dever cumprido, no sentimento de ajuda e irmandade advindo da solidariedade em prol de um objetivo comum e nobre e ainda, de esperança no amanhã e certeza na continuidade de ser.
          Outro sonho que escrevi e depois gravei em CD sob o título de “Um sonho lindo”, vi em uma cena bucólica e campesina  a minha Nossa Senhora, uma Senhora que se me apresentou em sonho colorido, falando de ecologia, da fauna e flora brasileira, bem como do povo simples e forte como forte o é também em suas tradições de fé e esperança.
           Acordada então, como sempre sonhei! Diziam-me os de casa, que eu vivia nas nuvens e nelas, de fato eu via figuras diversas, criava personagens e enredos e com eles, ás vezes como expectadoras, outras como co-participe das estórias, eu flutuava pelos ares, escorregava de uma nuvem para outra, quando  não saltava, pulava deslizando por macios e brancos flocos de algodão-doce.
       Criava estórias com meus brinquedos e castelos com a areia de um cercadinho no fundo do quintal e sonhava...
        Mais tarde passei a divagar e sonhar por dentro, enquanto qual “Don Fulgêncio” por fora, mantinha um “ar” atento e interessado á aula enquanto o professor, mais prolixo ou repetitivo, fazia suas explanações.
         Sonhei também com meu príncipe encantado, e como sonhei! Até que um dia ele virou sapo e eu acordei daquele sonho que muitas vezes se transformara em pesadelo.
         Não pensem  entretanto que, se muito  e por tanto tempo sonhei, que não fiz outra coisa na vida, pois fiz sim, vivi, estudei, trabalhei, fiz amigos, trombei com outros não tão amigos e continuei a participar ativamente do cotidiano, da vida e também continuei a sonhar e a alimentar alguns sonhos.
         Sonhos, ah! Os sonhos cheirosos, fofos, quentinhos, salpicados de açúcar e canela e, que quando mordidos, por entre fumaça, escorria saborosa goiabada do farto recheio, os sonhos feitos pela tia Vica e com os quais agora eu sonho!    
                 Sonhos...

R E T R A T O

                    R E T A T O



            Eu quero aquele retrato,

            Aquele retrato de fé,

            Aquelas formas de amor

            Que falam com tanto calor

             Daquilo que foi, e daquilo que é.



             Eu quero aquele retrato

             Que diz com tamanha verdade

             Que fala com tanto tato

             Das coisas de que tenho saudade,

             De tudo que guardo intato

             Com grande zelo até.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

´PÁGINA AMARELECIDA

                 PÁGINA AMARELECIDA...

                 Hoje conversei com você e fiquei contente em sabê-lo alegre, radiante, cheio daquela cintilação de vida que tanto encanta em você!
                 Estava triste, havia chorado mesmo, em soluços mudos, em pranto convulso e silencioso, como quando a alma desconsolada, gritava pedindo amor em desespero de fé.
                Ouvi você. Reencontrei você, aquele você que me encantou, aquele você que deixara saudade.
                 Amo você! Triste ou alegre, casmurro, sorumbático, mórbido ou mesmo azedo, mas esse você que grita e irradia vida, que comunica felicidade, esse você que é LSD, como você mesmo já disse, é algo tão extraordinário, é tão você, que faz falta, que deixa um vazio quando distante, quando latente ou adormecido.
                Fiquei radiante. Esqueci as lágrimas, deixei as preocupações e assim, como por passe de mágica, os motivos dela também deixaram de existir e eu, cansada mas feliz, vivi um dia com você, com sua lembrança, revivendo cada momento já vivido, com risos de ternura e expressão bestificada para os transeuntes desavisados de nós, de mim,de você, do meu estado de alma e do nosso amor.
              Estou aqui e estou aí, não sei onde, em que ponto cósmico, em que estágio de tempo nos encontramos e em que vivemos por nosso amor, de nosso amor e de nós-amor.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

LEMBRANÇAS DE RIBEIRÃO PIRES

                    LEMBRANÇAS DE RIBEIRÃO PIRES

               Venho acompanhando prazerosa e agradavelmente surpreendida, não apenas com a elegância literária, como com a fluência rica de sentimentos e lembranças, as crônicas de conhecido colunista, crônicas essas que em muitos temas ou pormenores, são de uma geração a que pertenço.

               A crônica sobre Ribeirão Pires, aflorou em detalhes lembranças da minha infância, em que deslumbrada pelo encantamento da serra e da viagem de trem, chegava á casa de uma tia materna, a minha pediatra e madrinha de crisma que, ao se casar, para lá se mudara.

              Lembranças da íngreme ladeira que subia, para chegar á casa dessa querida tia, no alto de um morro, subida essa com apenas uma parada para grudar o nariz e as mãozinhas espalmadas, á vidraça de um sobrado do caminho que... maravilha! Era uma fábrica de multicoloridas bolas de aljofre, para árvores de natal.

              Lembranças das decidas desse mesmo morro, pelo outro lado, com um pequeno balde de praia, cheio de minhocas, colhidas do chão de terra do quintal, para pescar lambaris, em uma das lagoas ao pé do morro, o que era sempre uma experiência divertida, mas que fez a menina sensível passar a infância e adolescência, sem comer peixe, com a lógica irrefutável de que, se eles comiam a minhoca, ao comer sua carne, estaríamos comendo, no mínimo, o suco delas impregnados em seus brancos filés ou suculentas postas.

             Lembranças também da igrejinha trepada em outro morro e das quermesses em que me deliciava, principalmente queimando estrelinhas até que a borra de uma delas me queimou o pé.

            Tantas lembranças me trouxe essa crônica! Tantas lembranças agradáveis do meu tempo de menina reportando-me a um tempo em que tudo era festa, novidade e certezas, em que tudo era possível, os sonhos realidade e a própria realidade um canteiro de sonhos!

            Ribeirão Pires foi uma parte desse passado cheio de magia, e pelas próprias características topográficas, lembrando um presépio, se encaixa perfeitamente no mundo  de encantamento  que tanto colore  e embeleza  o campo das lembranças.

MAR

                MAR



                É tão calmo e repousante!

                Que vontade eu tenho de chorar

                 Ao redescobrir as coisas simples,

                 As coisas boas, que trouxe o vasto mar!

JUNÇÃO DE TRÊS TEMAS

      JUNÇÃO DE TRÊS TEMAS



      POETA  -  RECONSTRUÇÃO  -  DESPEDIDA



      Aquele que faz uma tranqüila despedida, se desapega e se despede em paz, do que ou de quem ficar para traz, aquele que vê partir ou ainda aquele que parte, segue em diante, deixando tranqüilamente os amores, desafetos, alegrias ou dissabores e com fé e otimismo recebe o novo, se dispõe a uma vida nova e arregaça as mangas e alteia o espírito para uma reconstrução, na verdade é um airoso poeta.

      Poeta é aquele que canta a vida, que faz odes ao trágico como ás benesses, ás alegrias, aos sentimentos como aos fatos, ao tecnicismo como á mãe natureza. É aquele  que poetiza as dores como os amores, os encontros como os desencontros, ás destruições como ás reconstruções, á morte como á vida, mesmo que seja á despedida de um ciclo, de um século ou de um ano para crer e ver nascer, crescer um novo ano, uma nova vida, uma reconstrução após o trágico, frustrante do fim, do vir a baixo, do desmoronar que tanto trás a décima primeira (16) carta do Tarô, que é a Torre e que nos dá a oportunidade de reconstruir de acordo com os planos Divinos, os únicos planos que devem nortear nossas ações e posturas para que a vida siga um ritmo belo e harmonioso, digno do canto de um menestrel e da pena de um verdadeiro poeta.

         Que estejamos todos imbuídos desse espírito e postura, dessas atitudes e  sentimentos ao recebermos o ano que se inicia.

domingo, 11 de setembro de 2011

B R U M A S

                                B R U M A S 

                       Chove,

                       Cinza é o dia

                       E a tarde fria

                      Corre.

                      Mansa e serena

                      Envolta em brumas,

                      Em gaze macia

                      A tarde chuvosa

                     Morre.

LEMBRANÇAS DO MEU BAIRRO

            LEMBRANÇAS DO MEU BAIRRO
            Que saudade que eu tenho do meu bairro, com seu cheiro de passado, de tradição, de paz e harmonia!

            Que saudade da Pompéia com suas casas velhas, hoje despretensiosas, mas que marcaram uma época. Época de estabilidade da classe média, de gente boa, de bom nível.

             Aqui estão as raízes, aqui na minha Pompéia, vizinha do José Menino, mais velho, mais tradicional e que ficou sempre menino, um Zé brasileiro, berço e raízes de um Zé povo que deitou no tempo e assim ficou.

            Que saudade do sino da igreja, da torre e, das missas simples da Pompéia em que rezava menina, com fé e preguiça.

            Que saudade das velhas urubus igrejeiras exalando cheiro de tempo e de velas, enquanto murmuravam orações contando os nós dos terços e as vidas das vizinhas.

           Que saudade das tardes preguiçosas, do arrulhar, do chilrear dos pássaros e aves, transando por entre as copas de pequenas árvores.

           Mistura de vida com certeza de tempo.

            Saudade dos carros que passavam devagar, sem pressa, desviando-se dos campeões de pelada de meio de rua.

            Sinto o cheiro de saudade quando me lembro ou, passo pela Pompéia e, um gosto de paz se impregna em meu ser e eu sei então que sou, que paz existe em nós e que Deus é bom.

T R I L O G I A - O MEU ELOGIO Á LOUCURA

                       T R I L O G I A

         O MEU ELOGIO Á LOUCURA

                      TOMO UM



        A dor é tão grande que me sinto louca e tenho medo de começar a gargalhar inexplicavelmente para os outros, ao mesmo tempo em que me divirto ao imaginar a cena, o susto, o medo e desdém que causariam a liberdade de tal censura.

       O liame entre a chamada sanidade e a loucura total é tão tênue que, passa despercebido a todos e, é assim que surgem os “doidos varridos”, os loucos desvairados, os insanos tidos como irrecuperáveis, e é tão simples! Tão triste e comezinhamente simples! Apenas o fio que, de tanto se estender e contrair, para novamente ser esticado, que não suportando mais a tensão, se parte, estoura, arrebenta deixando correr aos borbotões toda uma corrente reprimida, todo um caudal por longo tempo contido, despejando emoções em torrentes descontroladas, sem ordem quer cronológica, ou  de espécie ou ainda, densidade ou importância. São  as grandes e pequenas emoções havidas e não reconhecidas ou apenas, não dadas a conhecer, reprimidas que, se atropelam, se atiram em desalinho, na força arrasadora da repentina liberdade, em ânsias desarrazoadas, em volúpias de ser, de finalmente ser.

             O liame da loucura total se dá, quando o outro nós, aquele nós que desde sempre conosco convive, que ve, enxerga e compreende, ás vezes até melhor que nós, o nosso eu interior e, que assiste, quase sempre divertido, o nosso ser rodopiar, se contorcer, equilibrar e, se aprumar na corda-bamba circense estendida no palco do cotidiano, se afasta, sim, esse outro aí,  se afasta para um lado mais alto, se acocora no topo, no mais elevado galho da imaginária árvore em que dependurados esperneamos, bailamos  qual mal-acabadas marionetes de trapo, seda, cetim ou do moderno poliéster de que formos e, quieto, onisciente, constata o que sempre soube e, como que deixa o pobre ser que somos, á mercê do seu destino, á realidade de sua dor.

               É isso a loucura, é apenas e simplesmente, o deixar ser finalmente, é passar a ser, de repente, é vir a ser, tardiamente e de uma só vez.

              Bendito o louco que ri, chora e balbucia desconexamente, que é finalmente, que vive no presente, toda uma vida não vivida e, não mais registra, não mais sofre, não mais

T R I L O G I A - O MEU ELOGIO Á LOUCURA

                      T R I L O G I A

        O MEU ELOGIO Á LOUCURA

                      TOMO DOIS
        Solta-te oh infame e divina criatura, no ar, no mar, na areia das praias, nos verdes da mata, no correr das águas, no negro do asfalto, no dedilhar das máquinas, nos sons e ruídos que poluem as metrópoles.

       Solta-te  nos apitos das fábricas, dos guardas, dos juízes de futebol, solta-te toda por aí, no lusco-fusco das noites, nas salas enfumaçadas das boates, no frigir das panelas, no toc...toc... dos saltos-altos em “trottoir” pelas ruas.

       Solta-te nos risos das crianças, nas mãos estendidas em apelo de pão, solta-te no chilrear dos raros pássaros, no cantar dos galos e grilos e, solta-te sem grilos, nas águas da chuva, nos raios do sol, nos mantos da lua, solta-te e descubra  como e quem és, pois és sim, não sabias?

     És um ser de sombra e de luz, és um ser de bem e de mal, és...  queres mais que isso? Não te basta ser?

     Sê feliz em ser, pois bem poucos o são, quer felizes ou seres, pois todos se reprimem, se condicionam ou, se acomodam em não ser, e se angustiam em desesperanças de ser.

              Sê livre, solta-te e te admires em ser, das coisas que são contigo e, daqueles que porventura ousem te acompanhar nessa grande aventura que é sempre ventura, a ventura maior da liberdade, da liberdade de ser.

            Sê seja o que, ou quem fores, o importante é começares antes que percas o ritmo, a coragem, a alegria, o conhecimento de si, dos homens e de Deus.

          Sê com fé e, crê. Crê antes de tudo em Deus e em ti, então poderás compreender e crer, nas coisas, nos seres, na vida.

         Não te esqueças porem que para isso é mister te soltares de ti, dos outros, dos grilhões que te impuseram e, daqueles  em que te prendeste a ti, na falta de coragem, na falta de ânimo, no medo de parar, pensar e... escolher.

         Solta-te, encontra-te e...sê plena e totalmente quem és.
         Aceita-te e ide ao encontro do bem maior, elevando-te em ser, em busca de Deus.

T R I L O G I A - O MEU ELOGIO Á LOUCURA

                  T R I L O G I A

       MEU ELOGIO Á LOUCURA

                   TOMO TRÊS



       Não é um tênue fio que me prende á razão aparente, é apenas, pura e simplesmente, a falta de forças para passar a gritar forte, desvairada, tola completamente. Apenas a falta de força, de ânimo, me impede a chamada loucura total, salvam-me da camisa de força e, como não tenho força, sou forçada a continuar a trabalhar, a sofrer, a viver, correr, pois continuam a me requisitar, como se sã estivesse, como se o meu normal, fosse esse em que me apresento hoje.

     Não sei se estou louca, sei apenas que me surpreendo em ânsias de berrar, de gritar desvairadamente, de “por a boca no mundo” e, deixar extravasar todo esse caudal contido, reprimido, que anseia por explodir, por correr.

       Surpreendo-me, ás vezes, vendo-me, sentindo-me pular, saltar, cair andares abaixo, deslizando pelo vácuo, enquanto enxergo o corpo que cae; aqui, aqui mesmo, pesado e contido na apatia total do deixar ficar.

      Desdobra-se meu ser, em um que vai, que age, que grita, pula, salta, que se manifesta mesmo que em fuga, mas que atua e, em outro, que fica, permanece a se consumir, apaga-se em não ser.

          Será loucura? Senão for, o que será a loucura então? Poderá alguém dizer, definir o que é dor, o que é são, o que é apenas mal momentâneo, circunstancial e, o que já extravasou o limiar, a linha limítrofe do seu eu?

        Não sei, sei apenas que me sinto presa, pesada, sem forças até para passar a ser noutra dimensão, de gritar pela amplidão, mergulhar na imensidão, de saltar da solidão.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

AVE-FLOR

                   AVE-FLOR

                   Ave sem ninho!

                   Flor prematuramente colhida da mãe terra e, transplantada para vaso de estufa e, depois para uma jardineira de marfim. Linda jardineira, mas estranha á sua fragilidade, onde vive como intrusa, por ter sido a última a chegar e, por destoar, quer pela estirpe, quer pela beleza, das gramíneas e parasitas ali pré-existentes, plantas essas que ao mesmo tempo em que a repudiam, sugam sua seiva aniquilando-lhe as forças.

                  Pobre ave-flor sem ninho, sem chão! Se persiste em ser, se continua a viver e a compartilhar de si com tais outras espécies, é apenas, pura e simplesmente por amor ao jardineiro forte e belo que por ela também se apaixonou, mas que não se apercebe do que exige da bela ave-flor que lhe enfeita e perfuma a vida, com seus trinados de dor